quarta-feira, 16 de setembro de 2009

T(r)ópico #50 - Beleza Sinistra no Cacimbo

13.09.2009



O período é o do Cacimbo, o período das secas. Uma altura do ano que aqui designam de "Inverno", com temperaturas a rondar os 23/25º constantes. À noite cai uma ligeira humidade (o tal cacimbo) e o céu está sempre coberto por um manto espesso de nuvens cinzentas que ameaçam chover, mas nunca chove...


No Outono europeu, as folhas caem das árvores, e também aqui, a diferença é que aqui caem no tal.. Inverno! Bom também como só têm 2 estações só podia ser mesmo nessa!

As árvores mais características daqui, os Imbondeiros, que no verão ficam fantásticos, com as folhas e os frutos verdes (ver T(r)ópico #28 e #30), no Cacimbo, deixam cair a folha, os frutos (a múcua) e ficam despidos...


A imagem é sinistramente bela!!!

Vista pelo retrovisor do jipe, parecem um bando de seres estranhos, amontoados em nossa perseguição...



Há os que, numa luta inglória contra os elementos naturais ainda tentam suster alguma dignidade, aguentar os seus frutos, prolongar a queda da sua "roupagem"... mas esses são os que, se não pelos ramos meio despidos, ou pela sua forma, apresentam o ar mais sombrio, qual árvore-antropomórfica de tronco encorpado, pescoço esguio, cabelos despenteados, e braços abertos de dedos prontos, para te agarrar...

terça-feira, 1 de setembro de 2009

T(r)ópico #49 - A via sacra domingueira...


Domingo em Luanda.

Normalmente as gentes desta terra aproveitam o fim de semana para fazer todo o tipo de festas, ir dar uns mergulhos à praia, e muito importante... ir ao Shopping!!! Ao Belas Shopping!!!


Aqui o Shopping (Centro Comercial em Português de Portugal - para os mais ortodoxos) é, ao contrário do que acontece em Portugal, um local onde vão as pessoas abastadas da cidade.

Único no país, apesar de já estarem em marcha outros dois, segundo consta, concentra naturalmente a atenção dos que, não tendo muito mais que fazer num período onde a praia não lhes é tão apetecível, rumam ao centro de deambulação nacional!

Sim, porque é exactamente o grande exercício que se faz por estas bandas!

Não se chega ao famoso cliché do fato de treino, só porque aqui faz calor e as pessoas andam sempre equipadas com roupa de marca desportiva, por isso, não se pode catalogar essa idumentária de "Fato de Treino", mas as marcas Puma, Reebok, Adidas, Nike, etc, etc, feitas as contas no fim do dia, devem ser as mais vistas entre os transeuntes...

As lojas não estão cheias, mas a praça da alimentação, está a romper pelas costuras, filas atrás de filas para os escassos restaurantes de "pega no tabuleiro, paga uma fortuna pelo kilo e procura uma mesa e é se queres"!!! As mesas... lotadas... e os cafés do exterior à pinha!

O supermercado.. bom, é bom nem falar pois, nem o Metro de Lisboa em hora de ponta consegue competir com tamanha multidão...

O Cinema... é como o Shopping, o único no País!!! E aos domingos, concentra a maior das atenções, pois já não só são os graúdos que aproveitam a matine por ser mais barato, (no outro dia paguei por este horário o equivalente a 17€ para ir ver o "Altamente" em 3D quando em Portugal pagaria 5.50€, 7€ no máximo!), pois esse é o horário da pequenada!!! Que com o seu e volume tom de voz típico, transformam aquele corredor/gruta do cinema, num verdadeiro parque de diversões de elevada reverberação acústica!!!

Isto é algo que aqui sempre me fez, e ainda faz, confusão! Como é que depois de ouvir tantas histórias pelas pessoas mais velhas que aqui viveram (alguns retornados), sobre os antigos cinemas, que eram um encanto, lindos, que com a liberdade que aqui se vivia passavam filmes que nem em Portugal se sonhava, das míticas matines ao ar-livre, e da variedade de opções de cinemas, assim como formas de passar os fins de tarde e noites dos fins de semana de 70's, como é que hoje só existe um cinema e é dentro de um "Shopping" Brasileiro???? Há coisas que não consigo mesmo compreender, mesmo que façam sentido depois de explicadas...

Não que tenha nada contra o Shopping e a marca brasileira, muito pelo contrário, até dou graças a Deus por aqui estarem e até perto de casa (atendendo às alternativas), o que me perplexa... são os outros que desapareceram...

E nesta ronda pelo Shopping, restam então os corredores para o já badalado vai-e-vem, de lá para cá e cá para lá, parando aqui e além, e micando aqui e micando ali, e não falo só das lojas, pois com o calor que se sente por aqui as roupas normalmente andam mais curtas, mas admire-se o que julga que aqui todos têm calor, pois cruzei-me no outro dia, num destes corredores, ia eu de Polo e Calções, com alguém que (menina), no sentido inverso, trajava umas calças de fazenda e uma camisola de gola alta... de lã!!.

Mas o ritual do Shoppoing não fica completo sem o Estacionamento Automóvel!
Aqui o parque automóvel do Centro Comercial, é uma coisa digna de se ver!!! Confesso...!!!

Não que não se encontre imensamente à pinha num domingo (e nos outros dias também, mas neste mais), e onde se pode passar minutos valentes rodando as baias de estacionamento procurando um raro lugar onde: (como alguém me disse um dia) "Estacioniar el Pió-Pió" (no seu belo portuganhol já de elevado grau... de fermentação), mas digno de se ver porque os carros, jipes, e até motos que aqui estacionam... são viaturas... TOPO DE GAMA!!! Sim, eu disse, Topo de Gama mesmo!!! E aqui sim diferem em muito de um Centro Comercial em Portugal, pois lá, o mais certo é o parque estar cheio de Renault Clio's, Fiat Punto's Opel Corsa's Peugeot 106, etc etc... mas aqui....!!!! Naaaaaaa.. aqui são Jipes BMW Z6, são Land Rover e Range Rover de última geração, Lexus, etc etc... e, só para se ter a noção, dei por mim no outro dia a contemplar no parque de estacionamento um... BENTLEY!!! Sim, um Bentley à porta de um C.C.... é que... fico sem mais palavras...

Exposto isto, e por ausência (prolongada) de àgua e electricidade em casa, o sítio mais próximo onde se pode comer uma refeição decente, e confiável, é mesmo no Centro Comercial, e à falta de melhor, lá fui eu... segurar no andor, e fazer parte desta procissão domingueira, rumo ao Shopping...

sábado, 29 de agosto de 2009

T(r)ópico #48 - Diário de uma estrada angolana... (percurso casa-trabalho-casa) V - The Return!!!

Não seria um regresso aos Trópicos se o meu 2º T(r)ópico da 2ª temporada não se referisse aquilo que considero a "Divina Comédia sobre Rodas" ou.. será que devo adoptar o nome de "Perigo Eminente!!!"?

É realmente uma dúvida que me assiste, pois não sei se deva rir com as manobras perigosas, os sempre presentes e intermináveis acidentes e peripécias com que nos presenteiam, a nós visitantes desta terra, ou se deva agradecer aos céus por ainda não me ter acontecido nenhum acidente, atropelado alguém, ou ter tido algum azar/chatice... Na dúvida... tenho feito as duas coisas!

Apesar de já calejado por alguns meses de condução nestas estradas, não deixo de me continuar a surpreender e admirar com as peripécias, as manobras incrivelmente "out of rule", a... anarquia das estradas!!!

E ai de quem aqui ouse protestar, mandar vir, buzinar ou praguejar!!! O melhor é esquecer, é deixa-los passar, é deixa-los infringir... seguir em frente, e acima de tudo estar super atento!!! O melhor truque é estar sempre de pé a trás, ou melhor, pé no travão (encostado), e tentar prever ,atempadamente, o que cada um dos veículos que seguem num raio de 50m (num e noutro sentido) pretendem fazer, ser um leitor de mentes de condutores angolanos!!!

Nunca a expressão: "Com um olho no burro e outro no cigano", fez tanto sentido para mim!!!

Como contar todas as peripécias que já assisti se tornava uma tarefa quase impossível e super fastidiosa, vou só partilhar estas que poderia catalogar de... "Os Camionistas!!!"


Ora, nem mais, vamos falar de camiões!!! E claro os seus... (ehhh.. bolas, não me vem um adjectivo melhor para os caracterizar... se não "broncos") condutores! (isto claro, se quiser ser politicamente correcto).

Bom, falemos então de um camião, ou melhor de um camionista que conduzia um camião, daqueles bem grandinhos, e que tem que virar num retorno! (mais à frente elaborarei um T(r)ópico dedicado a este tema, dos retornos)

Então este nosso amigo, que conduz um camião longo, e transportava 2 contentores de 20T. Tem de virar para o lado de Talatona e, portanto, virar no retorno... e não é que este nosso amigo não fez a coisa por menos e resolveu fazer jus à palavra e, literalmente... virou o camião!!!

E perguntas tu... mas como é que ele vira um camião carregado com 2 contentores de 20 Toneladas cada, com os contentores carregadinhos?

Pois é, meu amigo, mas a resposta é simples!!! Estás em Angola e aqui tudo pode acontecer!!!

Mas vamos lá à explicação lógica...

Então o nosso amigo, sabendo que conduz um camião longo, ficou de repente muito preguiçoso, e fazer a curva por fora, de forma a arranjar espaço para manobrar, dava muito trabalho, ou deve ter parecido, na altura, uma tarefa homérica, e ele resolveu seguir pelo retorno como se de um ligeiro se tratasse, a fazer a curva por dentro!

Bom, se não é novidade para mim que os passeios/lancis aqui são "à brasileira", feitos em betão armado, e com uma altura sempre superior a 50cm, então para ele, que muitas vezes ficam parados sentados na berma à espera de uma "Bóleia", já deve ser o bê-à-bá, ou devia ser...

O camião, fazendo a curva por dentro, fica naturalmente, mais cedo ou mais tarde, com uma roda encostada ao passeio. E o que é que o nosso amigo faz... Lá deve ter pensado: "Bom, isto é um camião.. tem rodas grandes... deve ser capaz de subir", ignorando claro, o facto de conduzir um camião pesado, com 2 contentores cheios, e isto é, caso tenha pensado alguma coisa, o que eu até duvido...

A roda teimava em subir o passeio, mas parar o camião e manobra-lo por fora dava muito trabalho, então só havia uma solução.. continuar a insistir...

O resultado daí, qualquer um adivinha, o camião lá conseguiu subir os cerca de 50/60cm de lancil, e claro, com a inclinação que daí advém, o peso dos contentores fez o inevitável... inclinou o camião, e daí a este resolver bater uma sesta deitadinho no asfalto, foi um instantinho! (que isto de subir passeios carregado dá muito trabalho!!!)


Incrivelmente, o atrelado e os contentores tombaram, mas o camião não! Era um daqueles que só tem a cabine e o espaço atrás para atrelar.

(foto tirada de manhã, por volta das 7h45m)

Bom, o caos que aquele estranho Incidente causou já todos imaginam...

E claro, lá foi o pobre do dono do material , ter que gastar uma fortuna em alugar um camião-grua aos chineses (que custam uma verdadeira fortuna por hora), para levantar os contentores, recuperar a carga e aliviar o trânsito...

(foto tirada meio dia depois, à hora de almoço)

Não quero imaginar o que é que passava pela cabeça pelo dono da carga, naquela hora, mas aposto que o tipo (o angolano que o conduzia) estava menos preocupado do que eu...


Outra história de um camionista aconteceu um ou dois dias depois do acima relatado. Um Camião carregado com grades de cerveja Cristal, uma vez mais, quis ver se o nome era só da cerveja, ou se o nome vinha das garrafas, e estas eram de... cristal...???

Então o que é que este nosso amigo resolve fazer?

Logo na primeira curva apertada (em cotovelo) que existe no fim de uma longa via rápida, resolveu achar que era o Fittipaldi, ou quem sabe, inspirado pelo sei recente acidente, o grande Filipe Massa.

Se resolveu achar que era um deles, ou realmente não sabe que tem que abrandar numa curva daquelas é algo que eu nunca vou saber. Agora aquilo que eu sei é que... um camião carregado com resmas de grades de cerveja, portanto um líquido (que se movimenta muito bem quando há inclinações), em cima de frágeis estruturas empilhadas, as grades umas sobre as outras, tombam muito facilmente numa curva daquelas a grande velocidade...!!! Mas vá, eu até lhe dou o desconto, não sou engenheiro mas tenho um curso que lida com engenharias, por isso, talvez, mas só talvez, seja natural que eu sabia isso, e ele... não!


Dois dias depois, exactamente na mesma curva um outro camião virou, (não me perguntem como, mas é fácil de adivinhar) e, uma vez mais, com 2 contentores de 20T, que ficaram espalhados pela estrada e passeios, tendo inclusivamente destruído um passeio (novinho em folha) que não deve ter mais do que 2/3 meses, e aqui... os passeios são feitos em... Betão Armado !!! (atenção que não estou a falar de cimento, mas betão armado!!!)

Os contentores também não ficaram muito bem tratados, como é fácil de imaginar...


Depois podia falar de mais aquele camionista que bateu contra um jipe (coisa corriqueira por estas bandas) e entupiu, com o acidente, a já congestionada estrada que dá acesso a Benfica e que atravessa o rio, sim atravessa... sem ponte!!!

Mas isso implicava falar dos passeios e cruzamentos que se galgam da estrada com 2 faixas, que de repente, se transforma em 4 (sem contar com as que se começam a formar nos passeios laterais ou no meio do mato paralelo à estrada), ou de conduzir em sentido contrário, e isso daria muita tinta para escrever e este T(r)ópico já vai longo...


E exposto isto, continuo com a minha dúvida inicial... "Divina Comédia sobre Rodas" ou.. "Perigo Eminente!!!"???



sexta-feira, 21 de agosto de 2009

T(r)ópico #47 - Back @ The Tropics - Part II


Depois de uma longa e atribulada visita ao país natal, para tratar da renovação das burocracias, e relembrar de novo ao desgastado corpo e vista, de como é a civilização, eis que estou de novo de volta aos paralelos tropicais!!!

Dia 14 marcou o regresso, e este T(r)ópico vem hoje, dia 21, "celebrar" não só a minha primeira semana de volta aos Trópicos, assim como a data de hoje, pois faz exactamente hoje 1 ANO, que vim pela primeira vez a este Trópico!!! Faz hoje um ano que teve início aquele que seria o primeiro (e curto) período dos meus périplos pela terra dos Imbondeiros!!!

E que melhor forma de celebrar este meu regresso e este aniversário que... a falta de energia!!! E claro.. a consequente falta de água!!!

Ah pois... estava eu ontem todo catita, a deliciar-me com o belo jogo que o meu clube do coração estava a fazer, quando após o 1º de 4 golos com que cilindrou aquela aspirante equipa ucraniana, e quando nada o fazia prever, a energia simplesmente... foi-se!!!

O primeiro pensamento, confesso, foi muito inocente... "Caraças, logo agora... bom.. faltam 10m para o intervalo, vou ficar por aqui (às escuras), pode ser que a energia volte a tempo da segunda parte..." ... que inocente!!! Até parece que nem aqui estou à um ano!!! (bom na verdade, totalizando o tempo todo de permanência são só quase 4 meses, o que pode justificar de alguma forma a inocência do meu pensamento..)

A electricidade não só não veio para a segunda parte do jogo como, aliás, não veio durante a noite toda... e muito menos de manhã!!! E o meu leitor mais atento já sabe o que é que isto implica... Ora nem mais... se não há electricidade, também não há água, e não havendo água.. também não há banho!!! (ou pelo menos um que tenha nome disso, pois aquele processo de tomar banho a copo do reservatório, não pode lá muito bem ser chamado de banho...)

E apesar de aqui estarmos no Cacimbo (a estação com a temperatura mais amena, onde o sol está sempre encoberto por uma camada bem espessa de nuvens cinzentas e onde até certas noites até quase orvalha - cai o que eles designam de cacimbo), apesar de estarmos então nessa estação... se não há electricidade logicamente o AC não funciona, então... por mais amena que esteja a temperatura, a noite é sempre uma noite sofrida, pois o calor... ataca!!! (pelo menos para quem não é de cá, pois os locais dizem até ter.. frio!!!??, é comum ver pessoas com temperaturas a rondar os 25º, vestidas de casacos grossos apertados até ao pescoço, ou camisolas e pullovers!!!)

E se o calor ataca.. o que saberia mesmo bem seria, sem dúvida, acordar e tomar um belo de um banho refrescante... pois.. nada disso!!!

O meu presente de aniversário desta mãe África foi: "Ora toma lá uma manhã sem água, que é para não te habituares muito às mordomias!!!"

E com isto só apetece dizer... "I'm back to Africa!!!"

quarta-feira, 24 de junho de 2009

T(r)ópico #17 - Barra do Kwanza.. o Paraíso na Terra!!!!

22.02.2009


Tinha chegado a Luanda na sexta-feira, dia 20, e dois dias depois, já estava provar o sabor desta terra.. a sentir a natureza, a sua beleza natural, o seu gosto... a sua tranquilidade...

No dia anterior, paramos na berma da estrada para escolher o equipamento.. uns angolanos, a caminho de onde passaríamos no dia seguinte, vendiam junto à estrada, todo o equipamento de praia, meio sujo, empoeirado e, digo eu, usado. Mas aqui, é como se fosse tudo novo. Compramos uns toldos, umas mesas de plástico, cadeiras, cadeiras baloiço, espreguiçadeiras, e até uma mesa tipo de campismo "Camping Gas" para os miúdos se sentarem, e já agora, e porque não.. umas canas de pesca e uma bicicleta.

"Junta tudo isso aí, que amanhã o motorista passa por aqui e leva, o resto que vocês ainda têm de ir buscar. E não se esqueçam!!! Hã!? Toma lá mais 100 USD, para teres a certeza que não te vais esquecer, ya!?" disse, quem comanda, enquanto eu, ajudando como podia aqui e ali na escolha dos equipamentos, tentando que ele formasse o conjunto mais harmónico possível e mais cromaticamente equilibrado, e observava, impávido, o desenrolar das notas de 100 USD que ele trazia no bolso, e que uma atrás da outra, foram passando para as mãos dos "vendedores". Não contabilizei, mas na certa, aquela compra de "em cima do joelho", tinha rendido uma safra, assim por alto de mais de 1800 USD, (+-1325€), algo que em Portugal, facilmente se compraria por uns 600€ em qualquer supermercado, e ainda com os plásticos a garantir que seriamos nós a estrear o equipamento! Já para não falar, do leque de modelos e cores disponíveis! Aqui... compra-se o que se tem,quando tem, e custa os olhos da cara...

No domingo dia 22, arrancamos então daqui, passavam já das 10 e meia. A viagem, rumo ao sul é tranquila com a praia e a enorme ilha do Mussulo a acompanhar-nos todo o trajecto de 1 hora e pouco de viagem, sempre pela direita, até à Barra... onde o rio Kwanza se encontra com o mar.


O terreno onde vamos acabou de ser adquirido, e vamos reconhece-lo...
É uma faixa de terreno virgem, com uns 150m de largura e 300 de comprimento que, numa área plana e polvilhada por lindos conjuntos de palmeiras, se estende desde o interior e termina justamente em frente à foz, onde o rio se cruza com o mar, o oceano!


Junto ao areal da praia, uma vegetação rasteira prova ainda a virgindade do local, e do lado de lá do areal e da língua de rio há ainda um areal onde pescadores, levam o seu Land Rover original e pescam peixes variados e gigantes!


Chegamos passava pouco do meio dia. O sol é quente e, com o céu despido de nuvens, queima na pele. A sombra das palmeiras é providencial!

Os peões, já tinham montado o equipamento, que resolvi relocalizar para melhor dele tirar partido. O motorista, que tinha vindo mais cedo, tinha também passado pelo supermercado e comprado o nosso almoço.


Digo almoço, no fundo, para ser modesto. Em 4 ou 5 grandes arcas de conservação, tipo "Camping Gas", havia bebidas (cerveja sumos guaraná, águas e outras mais a perder a conta, mergulhadas em quilos de gelo. Estas ocupavam 2 arcas. As restantes tinham a (muita e variada) carne, e o peixe que era local, tinha acabado de ser comprado a um pescador lodo pela manhã.

Enquanto damos uma volta pela frente do terreno e vou molhar os pés na água tépida, as mulheres com as raparigas contratadas para o efeito, preparavam as brasas, a carne, o peixe, cortavam o pão e faziam as saladas, sem nunca se esquecerem de preparar muito bem o jindungo!


Junto à àgua, as crianças brincavam como podiam, e iam comprovando a suspeita de que a água estaria deliciosa. Sento-me na areia junto à água e fico a observar a tranquilidade... as àguas calmas, os peixes que, em pequenos saltos vinha-me dizer que ali também havida vida, e que pelo menos, naquelas águas próximas do derradeiro encontro com o oceano, estariam mais a seguro dos jacarés que, um pouco mais acima, nos juncos sobreiros nas margens preparam as suas mortais emboscadas. Do outro lado, a linha de areia vem acentuar a linha do horizonte...


Os tenis saltaram fora e tomaram lugar as havaianas, os calções pelos calções de banho, a areia escaldante e a água quente solicitavam um contacto mais próximo.



O alarme sou! Um peão veio trazer a mensagem... o almoço estava pronto! O cheiro a carne grelhada, e a peixe na brasa à medida que nos íamos aproximando da sombra das palmeiras aguçavam o apetite e na pequena elevação de areia, apoiada pelo equipamento recentemente adquirido, e um som de bossanova que vinha do Patrol, criava-se o ambiente perfeito para uma tarde de degustação e tranquilidade que ainda só agora começava...

O almoço começou com uma, duas, três,tantas estórias, uma após a outra, regadas pela cerveja que pontualmente se pescava da arca, onde mergulhadas no gelo já meio derretido, vinham acompanhar e alegrar um pouco mais aquela tarde de troca de experiências, de rumos, de objectivos, de sonhos e de ilusões, sempre acompanhados por um peixe grelhado que não parava de chegar à mesa, e que quando, guiado pelo metal do garfo, me chegava à boca, à lingua, parecia desfazer-se... o sabor era potenciado não só pelas brasas, que com calor iam tostando cada face daquele delicioso peixe, mas acima de tudo por todo aquele enquadramento natural fantástico, em que as horas pareciam arrastar-se vagarosamente, ao sabor da corrente do Kwanza que logo ali ao lado, tranquilamente se ia encontrar com o seu destino... com o Oceano... o oceano que liga os mesmos países que uma mesma lingua ainda une, um trio que outrora fora um Só, e que agora se prometem reencontrar em Angola, Brasil e Portugal, para um mesmo fim, no mesmo país...

Mas agora, são mesmo só 2 portugueses que, deliciosamente degustam todo aquele cenário natural, na companhia de uma simpática e acolhedora família angolana, os trabalhadores e motorista, as crianças, o som do rio, o som do mar, a leve brisa nas palmas, o sol por entre os dedos do pintor... aposto que, se Renoir, Monet ou Degas se tivessem podido encontrar com Gauguin, naquela tarde, naquele mesmo sítio naquele domingo, teríamos ficado representados ali.. entre a natureza e a tela, numa impressão impressionista de pós-impressionismo colorido, pelo verde e azul da água, os verdes amarelados das palmeiras, o amarelo da areia, o laranja do por do sol, o abraço do tom pálido dos portugueses, com o negro dos angolanos, o peixe tostado... a carne vermelha... o sal ainda no corpo, tudo isso e a cor do momento que espelhava a felicidade.. esse doce momento que volta e meia, a vida nos presenteia, e só um artista, um impressionista conseguiria tão bem captar para a posteridade, na táctil forma de captar com movimentos rápidos, em precisas pinceladas o brilho, o efeito das luzes... e onde as cores de áfrica se perpetuariam, intensas, como nas tardes vivas gravadas nos quadros de Paul Gauguin...

A tarde parecia não passar, e porque já sabia bem apanhar um ar fresco, então chamou-se o outro empregado que tinha ficado de contratar um barco... "Cumé..., já chamaste o barco?"

A refeição pediu a calma, e o tempo deu-lha... agora eram as águas que nos chamavam em suaves sussuros, tocando ao de leve com pequenas ondas tímidas, a areia quente da praia... deslocamo-nos até lá! O barco estava a chegar...

Ao chegarmos à linha de água, torneando por entre os juncos secos estendidos no areal, avistamos o barco que, de motor já desligado (parecia não querer interromper aquele momento de paz interior com o seu ruído característico), se aproximava embalado pela leve ondulação ,na berma. O barco não era grande, mas coubemos todos e, mais pequeno fosse, mais empolgante seria a viagem.


Arrancamos em direcção ao Sul, para logo entrarmos rio a dentro a Este. A paisagem inspira...


O rio é grande, largo, com vegetação de um lado e do outro, verde, viva, a tocar a água, a embrulhar-se nela, e a ocultar vidas... outras vidas, de outra natureza, umas mais pequenas e esguias como os os peixes e libélulas, outras maiores, que no silêncio da emboscada, procuram as suas presas para devorarem com as suas poderosas mandíbulas.













O passeio deve ter durado uns deliciosos 30 a 40 minutos... entramos pelo Kwanza a dentro, passamos a ponte, avistamos um afluente, viramos nos juncos, saboreamos a brisa, provámos a água, brincámos com o combustível que tinha acabado, contamos anedotas, bebemos a paisagem e voltámos à margem...

A tarde foi-se passando por entre os risos das crianças, a sombra dos chapéus (agora colocados à beira da água), e o suave esticão da corda de nylon que denuncia a mordida de um peixe no anzol, este mais esperto que nós pois levou o isco e deixou o anzol bailar ao sabor da corrente! Isto, claro, na única cana que montei, pois as restantes saíram da embalagem, mas quando dei conta já a linha se tinha envolvido em torno do carreto e os miúdos reclamavam que aquilo não estava a funcionar...

A tarde foi passando e com ela um degradê celeste, de tons azuis para os tons laranja...

Ao fim da tarde, a mesa, montou-se agora distante da sombra, pois a temperatura já permitia desfrutar aquela deliciosa paisagem, pintada agora em tons quentes, e o grelhador voltou de novo a funcionar, compondo aquele quadro com um cheiro a grelhados... desta vez, de carne!

A refeição fez-se uma vez mais, vagarosamente, por entre novas estórias e anedotas, imaginou-se o futuro do local, projectaram-se novos e vindouros momentos como este, e regou-se tudo com bebidas frescas, pois apesar de o dia estar a caminhar para a Hora de Ouro, o calor ainda se fazia sentir... e a brisa.. essa, tinha ido dar um mergulho, e deixou-nos a desfrutar a companhia do sol, que agora, descendo em direcção a outras latitudes, pintava o céu de tons deliciosamente quentes, e presenteava-nos com um espectáculo como que se nos convidasse para voltarmos... e voltarmos logo...


No meio da natureza, quando o sol se põe, resta ainda uma claridade ténue, que se vai desvanecendo com o passar dos minutos...

Novos sons surgem para substituir os diurnos, e a brisa volta de novo, para nos lembrar que está na hora de voltarmos... ...voltarmos à realidade e ao caos da capital Angolana!


O meu grande desafio para este local, vai ser, respondendo aos requisitos programáticos e exigentes do cliente, conseguir implantar uma pequena área privada em convivência com um, também pequeno resort, sem ferir a beleza e tranquilidade deste pequeno pedaço de paraíso, à beira rio/mar perdido...

(Foto aérea da Barra do Kwanza, tirada no jacto particular quando a sobrevoamos, de regresso do Lubango - 08.03.2009)

À vinda, o inevitável transito que, à medida que nos aproximamos de Luanda se vai adensando ao ponto de parar. Pessoas saem dos carros, encetam danças (kizomba, kuduro) cantam, e um par de miúdos brincam a queimar o tempo. O regresso demora mais cerca de 2 horas do que a ida... mas isso não é motivo para desânimo... não, pelo contrário.. num outro país, seria um desespero.. aqui... é somente mais um motivo para nos divertirmos, para o convívio, para explorar o nosso bom humor, e rirmo-nos com a forma perigosa e confusa da condução que por aqui se faz, ou do estado de um ou outro carro que passa por nós ou nós passamos por ele... como do Toyota Rav4 que ultrapassamos umas 2 ou 3 vezes, e que, incrivelmente se deslocava somente com 3 rodas, sendo a quarta só a jante com um pedaço de pneu ainda agarrado, e que viajava como se não fosse nada com ele... o importante era continuar a andar e chegar ao destino, desviando-se dos postes de electricidade quase tombados na via, e quando esta já não andasse, não havia problema.. ele descia para a vala, e contornava pela direita os carros que não eram tão espertos quanto ele, e ficavam ali, certinhos, na estrada de asfalto esburacado, quando se descessem um pouco, ultrapassavam mais uns quantos! Tudo isto, todo este quadro vem encher de cor o meu segundo dia, que já vinha cheio com a memória do pôr do sol dourado, naquele pedaço de paraíso à beira mar...

sexta-feira, 22 de maio de 2009

T(r)ópico #46 - O fiscal das obras... ou a versão Luso-Angolana do Lucky Luke!!!


Engraçado.. quando estava a ver esta foto tirada ao sr. Arquitecto durante a fiscalização no fim da tarde, fez-me lembrar algo do meu imaginário infantil... ... ou será só a mim!!!???

T(r)ópico #45 - In Angola, working with Chinese...

Arquitecto e Encarregado


Não, não falo Chinês... mas como Português, em Angola, vejo-me Grego para, em Inglês, falar com eles...

terça-feira, 19 de maio de 2009

T(r)ópico #44 - Musica Angolana - My Favorite Angolan Song

Pro incível que pareça, muito eu poderia falar sobre a musica angolana... mas não me vou estender sobre esse assunto (pelo menos agora...) Vou só deixar aqui ficar, uma musica (uma das primeiras que ouvi quando cá cheguei, e uma das que, por várias razões mais gostei) e um comentário a ela e às letras das musicas angolanas que, ao seu jeito falam de coisas ,bem do dia a dia, de uma forma bem conseguida e muito engraçada...

A musica é esta:

Musica: "Patrão" - Ary Feat. Yuri da Cunha

Ver Video da Actuação ao Vivo

(Obrigado Olavinho- sejas lá quem for!)

(clicar nos links para ouvir/ver musica)


E o comentário é somente este:

Ouçam com atenção a letra da musica (no 1º Link) e não se percam com a dança da Ary (no 2º Link)... o vídeo não é meu, é de um tal Olavinho, mas eu já tive a felicidade de ver a Ary a tocar ao vivo (sem o Yuri da Cunha) na Discoteca "Kopos" no Lubango - Província da Huíla, quando lá fui... e digo-vos... vale a pena!!! eheheh

Ps - Não reparem na parte em que a Ary quase cai do palco... :P

segunda-feira, 11 de maio de 2009

T(r)ópico #43 - O drama da energia...

Domingo, 24.05.2009

Era quinta-feira à noite, chego a casa já bem depois das 22h (o que corresponde aqui, mais ou menos - em termos de sensação de período nocturno - às 0h em PT). O dia foi duro. Pouco tempo no escritório e muito tempo na obra, a resolver situações... sentei-me ao computador já passavam das 19h. Cheguei a casa, comi qualquer coisa e nada me saberia melhor que chegar e poder tomar um duche bem relaxante, para purgar o corpo, e a alma...

Aqui as jornadas são longas e duras. O dia começa bem cedo... 5h, 6h ou 7h da manhã, depende do que houver para fazer... e as minhas, têm terminado já depois das 22h. Não porque já não haja trabalho para se ir fazendo, mas porque às 22h desliga-se o gerador do empreendimento e sem ele.. não há energia...

Então vou para casa, janto qualquer coisa, dedilho um pouco a guitarra, passo os olhos pela TV, a ver se aprendo a resmungar com qualidade como o dr. House, toma-se um banho, lê-se um pouco e já perto da 1h, vou descansar que a jornada seguinte promete...

É do senso comum que, depois de um dia de trabalho o que sabe mesmo bem é um belo banho seguido de um bom descanso. E aqui, para um bom descanso, implica ter o ar condicionado ligado um pouco abaixo do máximo, e uns belos tampões nos ouvidos para não ouvir o constante trabalhar do equipamento. E para acabar em beleza, um acordar tranquilo, seguido de um banho matinal para despertar e preparar o corpo para o novo dia que se aproxima.

Bom, como o dia tinha sido duro, então depois de um rápido repasto, meti-me no duche, e tomei um belo e longo banho! Passado um pouco, resolvi deitar-me pois tinha a certeza que o dia seguinte iria ser difícil... e não me enganei muito!

Passado pouco tempo depois de me ter deitado e adormecido, senti o desligar do A/C, sinal que a energia tinha faltado... como o sono era muito, virei-me para o lado com o seguinte pensamento: "Bem, se faltou agora, pode nem ser tão mau quanto isso, de manhã pode já estar a funcionar"... ohhh como era bom se assim tivesse sido...

De manhã ao acordar, o que na verdade foi mais um re-acordar, pois sem o A/C a casa fica quente, e com esse calor fica dificil dormir-se tranquilamente, acorda-se muitas vezes com o calor, a casa fica húmida, assim como o corpo, que fica suado, e o cheiro a humidade instala-se... na casa, nas roupas dos guardafatos, nos cortinados, no ar... ...apercebo-me que estou sem energia, e sem energia não há água! (coisa recorrente por estes lados). Ok, pensei... isto não tarda volta... mas não voltou... e não podendo distender mais o despertar matinal, fui ao banho a copo, com água do reservatório...

Como tive um dia agitado, optei por almoçar no Belas, o shopping aqui ao lado do empreendimento. - muito conveniente... uma vez que é o único do país!
(nota: digo shopping pois o centro comercial é brasileiro e como tal, tudo ali tem o nome the "shópingui")

Voltei ao trabalho pouco depois do almoço, e fiquei até quase às 22h, altura em que os chineses desligam o gerador, e fico às escuras numa zona pouco habitada, e por isso, perigosa...

Rumo a casa... caneta USB no rádio, radio bem alto, mãos no volante, voz a acompanhar a melodia e a mente a pensar no belo banho que vou tomar quando chegar a casa...
... ou melhor.. que tomaria se, quando chegasse a casa... houvesse energia!!!

Diz um vizinho que, já está assim desde manhã...

Bom, como o fogão é electrico (muito conveniente onde num país passa a vida a faltar a energia), e nada de luz em casa, e por sorte não tinha ficado na obra mesmo até ás 22h, podia ainda voltar para trás e apanhar o Shopping aberto (que fecha ás 22h), e com sorte comer alguma coisa! E assim fizemos... e jantámos! Mas.. logo a seguir o C.C. começa a fechar, e... o que é que se pode fazer, num sítio sem energia (em casa)...? Dormir??? Bom não parecia nada mal, atendendo ao esforço que se tem vindo a fazer esta semana... mas...como a casa sem energia fica bem quente... quem é que consegue dormir com esse calor?? Só mesmo um corpo desgastado e exausto é que pode cair na cama e dormir descansado... Sair para a noite ficava fora de questão, pois a ilha fica longe e, lembro, não tinhmos tomado o nosso banho after work! A opção foi... já que tavamos no C.C.,.... o cinema!

Novo problema se levanta... Todos querem ver um filme diferente! Eu quero ver o "Anjos e Demónios" (note-se que aqui a escolha não é muita e variada), outro quer ver uma daquelas pândegas americanas comerciais "Uma noite no Museu 2", e o outro... queria ir para casa! Bom fomos a votos... e ganhou... o raio da pândega! Não conformado, tentei ainda a minha sorte ao insistir que se fizesse pela melhor de 3... e não é que o filme calhou nas 3 vezes que se tirou à sorte!!!?? Bolas... tava mesmo frito! Como dizem os meus amigos brasileiros "não têm jeito meismo não"! Tive que ver o raio do filme! Pensa o meu caro leitor a esta altura.. "Hey! Mas tu tens sempre a hipótese de não ver esse e ir ver o outro!" Pois, meu caro, tenho sim nas o outro além de demorar mais, começa 45m mais tarde que o dito cujo, e nós.. viemos num só carro! Porra... e eu que nem sequer vi o "Uma noite no Museu 1", tinha agora que gramar o 2!!!

Bom pelo menos o cinema era confortável...fora o cheiro impossível a pipocas doces que impestava o cinema! E...não fossem 2 casais que entraram já no inicio do filme, teriamos a sala só para nós, 3 gatos pingados às 23h30 enfiados num cinema para ver um filme da treta por não haver energia em casa...

Quase que adormeci a ver o filme, tal era a diversão que a "comédia" me proporcionava! E bem arrependido fiquei eu de não o ter feito, já que as cadeiras nem eram más de todo, e quando chegamos a casa... a energia ainda não tinha voltado...

Avizinhava-se mais uma noite "tranquila"... sim, sem o ruido do A/C mas com o calor a entrar dentro de casa sem pedir autorização, e os mosquitos a esfregarem as patitas de contentes por terem a vida facilitada esta noite!!!

Bom, tamos sem energia agora, mas tudo bem.. amanhã, acordamos já com energia e tomamos um belo de um banho e tudo se resolve e esquece... bom... já ouviram falar no termo "History Repeating"!!!?? Pois... a amanhã do dia seguinte foi idêntica à do dia anterior... com a diferença que... a água nos reservatórios, para o banho a copo, já não chegava para todos..., mal deu para lavar a cara!

Enfrentamos mais um dia, com a coragem de quem vai para uma guerra que já sabe ir perder, pois, era sábado de manhã ,e se até à tarde não houvesse energia, poderia muito bem, já não haver energia para o resto do fim de semana... e com isso, e muito grave e importante... não haver banho também! Escusado será falar que o ambiente de uma obra, não é, digamos, tão tranquilo e dust-clean como um escrítório, e apesar do escritório funcionar na casa modelo, e esta estar mais protegida das poeiras e afins, uma pessoa tem sempre que ir à obra... lindo cenário se apresentava o meu dia!!!

Falta ainda mencionar, que nestes ultimos dias andava um pouco mais debilitado pois tinha sido atacado impiedosamente por um batalhão de mosquitos e outra coisa qualquer coisa mais, que me causou uma reacção alérgica...

O dia lá se foi passando com a fé de quem quer muito que, quando a jornada terminar, possa finalmente haver energia em casa...

O dia de sábado é só trabalhado de manhã! Supostamente até ao meio-dia, mas aqui.. o meio dia estende-se sempre até às 2 ou 3 da tarde... neste... estendeu-se até às 4!

Os outros resolveram ir até casa ver se, com sorte, a energia já tinha chegado, e eu ficava a trabalhar, caso esta não tivesse voltado, econtrariamo-nos no Belas (shopping) pois sem energia também não tinhamos almoço, que aquela hora já era quase jantar...

E quereis advinhar... havia energia em casa...??? Pois.. havia era o tanas!!!

Felizmente, eu tinha dado instrução para se começar a acabar a casa modelo e com isso, havia uma casa-de-banho que já tinha banheira, com água ligada à torneira, mas que ainda não tinha o ralo ligado à saída... e por outro lado, o chinês ladrilhador tinha naquele mesmo dia anterior, rematado as juntas do procelanato pré-cortado das paredes, e a WC ainda estava cheia de pó... (para os não arquitectos/engenheiros e afins, ou entendidos na matéria, pré-cortado num porcelanato implica que tenha mais cortes na peça do que as juntas que as suas arestas necessitam, logo mais juntas para preencher, logo.. mais lixo/pó para ser fazer ao rematar as juntas). Por azar também (que já era pouco....) como era sábado, a mulher de limpeza não tinha vindo trabalhar...

Bom, o que interessa é que havia a possibilidade, de com algum engenho e arte, fazer-se a ligação, limpar-se o pó deixado pelo remate das juntas, e finalmente tomar-se um banho... de água fria! Bem, atendendo ao calor que se faz sentir não era mau de todo...

Como não havia energia em casa, e a fé que voltasse, aliada à sombra da segunda-feira seguinte que seria feriado, o fantasma de podermos ficar sem energia até à proxima 3ª... começava a ser bem real!

Voltamos ao sítio onde a energia não falha tantas vezes, o Belas, e resolvemos ir ver o filme que gostava de ter visto no dia anterior... e não é que vimos mesmo! E o filme até foi bem bom... e pela primeira vez neste 1º trimestre, e apesar do filme ter durado quase 2h eu, por cerca de 1hora, consegui-me esquecer que estava em África, em Luanda, que não tinha energia em casa, e até podia ter dito que estava num qualquer cinema de Lisboa, não fosse quando o filme acabou, ao acenderem as luzes, eu perceber que afinal o cinema não estava meio cheio, mas sim repleto! Tava meio cheio até acenderem as luzes, pois havia parte do público que, com as luzes apagadas, ficam, digamos... camuflados, e como tal quase invisíveis e, como o filme não era para rir, só duas bolinhas que volta e meia piscavam, ficavam visiveis como que a marcar presença...

Terminado que estava o filme, voltamos à obra para apanhar os vários carros , e note-se já era bem de noite (21h), e resolvemos dividir-nos... eu ficava na obra, e eles iam a casa ver se já havia electricidade ou não... (onde é que eu já li isto...???)... pois caso não houvesse teriamos que ir a correr ao Shopping novamente para jantar, caso contrário ali perto não havia mais onde pudessemos comer...

Fiquei on escritório a aproveitar o pouco tempo de energia que ainda tinha, antes de o gerador se apagar, a mandar uns mails, e de olho no telemóvel, ao mesmo tempo que pedia a todos os Deuses que estudei na cadeira de Religião e Moral, e nas aulas de História (gregos, romanos, egípcios, todos, não interessava a origem), para que quando aquele telemóvel tocasse, viesse de lá a frase esperada... "Já temos Energia!!!!".... e então esperei...


Passado um pouco o telemóvel tocou... eu.. até estremecí!!! Peguei, atendi, e em vez do habitual "Tou?" ou "Alô"?... a minha pergunta não foi bem pergunta.. foi mais uma súplica... «Jorge!!!? Por favor... diga-me que me vai dar uma boa notícia....» .... e ele Deu!(s)!

....

Como dizem os meus amigos brasileiros... «Aquí, ó!.. Ficarrr sem energia doiss djias, não é brincadêira não!!!»

....

Lembro ainda que, numa casa, não é só o A/C, o fogão electrico, a bomba que puxa a água, a Tv e as lâmpadas que precisam de energia para funcionar... o frigorífico também, precisa... e por mais gelo que ele tivesse no congelador, 2 dias sem energia... mandam o conteúdo deste, directamente para o.. qual é o termo mesmo... ahhh.. directamente para o GALHEIRO!!!

Ahhh... como somos felizes, nós que habitamos o 1º mundo, e temos como certo que, de manhã quando acordamos, abrimos a torneira e tomamos o nosso belo banho! E se, por ventura, algum dia isso falhar,... ui... caem raios e coriscos sobre a companhia responsável, entrevistas são feitas, televisões convocadas, noticias são feitas, indignações são levantadas... aqui.. bom... aqui conformamo-nos e damo-nos por felizes se, nas repetidas vezes em que isso acontece, a energia não faltar mais de um dia... e rezar para que não falte muito... ou pelo menos de manhã!!!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

T(r)ópico #42 - Informação FAQ - Angola/Luanda

Ultimamente tenho vindo a ser, frequentemente, abordado por pessoas interessadas em saber como é A Vida Nos Trópicos! Ou porque querem vir, ou porque foram convidadas para vir trabalhar para cá, ou porque encaram a possibilidade de tentar a sua sorte por paralelos mais a Sul e tropicais em oposição aos mais temperados do hemisfério Norte do globo, ou porque gostam ou, simplesmente, só por curiosidade. Seja qual o motivo, fazem-no na tentativa de perceber melhor as adversidades que aqui poderão encontrar, assim como as coisas boas que por aqui há!

Para ser sincero, compreendo-os muito bem, pois passei pelo mesmo, na altura da decisão... "Vou...ou fico?" Também eu procurei obter o máximo de informações e relatos pessoais que me ajudassem na tomada de decisão. Tentei por todos os meios (racionais e irracionais) tentar perceber qual a melhor opção (uma vez que tinha 3 hipóteses: Vir para Angola - Aventura; Ir para um Atelier prestigiante em Portugal (de um arquitecto de renome) - Carreira ; ou continuar no sítio onde estava - + Confortável). Fiz todas as análises SWAT, consultei todos amigos, família, ouvi todas as versões, e até tirei à sorte... à primeira e à melhor de 3!!!

Apesar de, para a tomada de decisão final, eu já poder contar com uma visita (de uma semana) que tinha feito meio ano antes para reconhecimento, se tivesse tido uma visão mais específica sobre os assuntos que mais me preocupavam, talvez a decisão tivesse sido mais fácil, e eu tivesse poupado algumas horas de paciencia a todos/as os/as meus amigos/as que tiveram a enorme paciência para ouvirem as minhas indecisões e incertezas! (Já agora, a todos um grande obrigado, pela vossa paciência e amizade!!!)

Posto isto, resolvi então "postar" um T(r)ópico que possa transmitir uma visão ampla de duas das principais preocupações que, as pessoas na sua grande maioria, normalmente questionam com maior frequência: Saúde e Segurança.

Falarei sobre estes dois, pois são também os mais comuns e transversais à maioria das pessoas, uma vez que as restantes questões dependem de outros factores, mais variáveis (Tempo de estadia; Trabalho; Empresa em que se vai trabalhar; Nacionalidade da Empresa; Local de Residência, Contrato, Condições, Vencimento, Etc, Etc.)

Faço-o de um prisma geral e da minha experiência pessoal.

Atenção, por pior que pareça o cenário, isto não é o fim do mundo. Não é mau! Mas também não se pode catalogar de bom, ou muito bom! Principalmente para quem tiver dificuldade em prescindir de alguns níveis de conforto (e alguns cuidados básicos), a que facilmente nos fomos habituando em Portugal.

O que nem é mau de todo, pois aprendemos a valorizar simples aspectos que no nosso quotidiano deixamos passar ao lado por... serem dados adquiridos, e não imaginamos a importância que pequenos detalhes têm no nosso dia-a-dia...

Não posso dizer que isto não é bom, mas também não é mau, ou melhor, não é assim tão mau, desde que uma pessoa se saiba enquadrar e relativizar as coisas à sua volta, pois se o fizer, irá perceber que até se consegue sentir bem aqui, mas é bom que venha preparada para o pior, mesmo!

Um coisa que irá que ter bem presente e consciente, é que em termos de saúde, vai adoecer várias vezes, e em termos de segurança, vai correr sérios riscos, quer de integridade física, por contacto pessoal, quer em termos de viação. Se tiver preparado/a para isto, já não lhe vai custar tanto.

Para facilitar a percepção, passarei a utilizar a 2ª pessoa do singular, de forma a ficar mais "pessoal" e directo.

Saúde:
De facto um dos maiores aspectos a ter em conta numa vinda para aqui, é a Saúde! Os hospitais aqui não têm as melhores condições (já ouvi relatos de sangue espalhado pelo chão a fora na sala de partos, por ex.o) e a saúde privada, que sempre é um pouco melhor, é imensamente cara! Eu que o diga...

A saúde é cara, não têm todos os equipamentos e conhecimentos, e o atendimento é leeeeeeeentooooo... mas lento...!!!
No entanto nem tudo é mau. No que toca a doenças tropicais, estão muito bem preparados e habituados. Melhor apanhar malária e curá-la aqui, do que ir com ela para Portugal ainda por diagnosticar.

Apanhares malária não é uma hipótese, é uma garantia! É quase certo! Eu já apanhei! Mas se detectares logo os sintomas, e atacares com o tratamento de choque, consegues curar. Eu fiquei uma semana afectado. O importante é (re)conhecer os sintomas, e ataca-la logo logo, sem demoras. Pensamentos do género: "Vou esperar até ao fim de semana a ver se isto passa" ou, "isto deve ser uma gripe, ou cansaço, tomo um comprimido e isto passa", devem ser altamente descartados!!! (Mais à frente, dedicarei um T(r)ópico a esta maleita, e aos seus sintomas e reacções)

Diarreias, e alteração do teu bio-ritmo também são garantias! Estas mais ainda. Eu quando cheguei, logo a seguir, apanhei um desarranjo intestinal de ficar de cama, com febres acima dos 39º.

Tens que ter muito cuidado com a alimentação, não deves comer saladas, legumes não fervidos, ovo, fiambre e afins, tudo o que não seja cozinhado e fervido, fora de casa, e em casa comer comida que te dê as vitaminas e proteínas necessárias e beberes sempre muita água, para não desidratares. (de preferência muita água tónica - o quinino presente nela ajuda na profilaxia da Malária)

E depois há os insectos e os animais venenosos (cobras, aranhas), as minas e a mosca Tse-Tse. E não convém ignorar o recente surto de raiva que assolou Luanda.

Bom, se ficares só pela cidade, só tens que te preocupar com os mosquitos e as aranhas. As cobras venenosas, as minas e as moscas tse-tse, só no interior.

Eu já tive de andar em campo minado, e no meio da vegetação onde habita a mamba preta! Uma cobra altamente venenosa... os portugueses colonos, baptizaram-na de "minuto-minuto", és picado num minuto, vais-te no minuto a seguir.

As moscas tse-tse também lá havia... eu não vi nenhuma mas vi as armadilhas que os tropas (que tomavam conta da barragem) armavam para as apanharem.

Mas se ficares pela cidade, as tuas preocupações devem estar mais com as águas paradas, e com as águas da chuva quando chove, que inundam tudo, e se misturam com as águas fétidas dos esgotos a céu aberto, e claro, preocupares-te também com os mosquitos e afins. Além da malária que as picadas dos mosquitos te podem fazer, há ainda alguns que quando te picam, além de pareces um painel de botões (vermelhos e inchados) de um elevador, onde os botões, grandes e salientes, ficam alí.. há espera de ser "apertados", há ainda uns (não sei o quê) que se te picarem deixam-te ficar uma cena qualquer estranha a crescer dentro de ti, até infectar, e rebentar, e depois teres que "manualmente" o puxares cá para fora... não é um cenário bonito de se ver... mas este com sorte, podes nunca ter de ver (em ti, pelo menos), mas lá está... é tudo uma questão de hipóteses!


Segurança:
Não te vou dizer que é seguro aqui, mas também não é muito inseguro. Depende da tua rotina e, dos riscos que estiveres disposto a correr, para saboreares um pouco desta Africa, e no fundo atenuares um pouco o impacto que é a mudança de vida.
Dos riscos que correres para tentares viver um pouco, de modo a compensares o ânimo que o excesso de trabalho te leva um pouco para baixo. Sim, aqui quem trabalha ,verdadeiramente, são os expatriados. E muito!

Em questão de segurança é tudo uma questão de hipóteses!!!

Tens mais hipóteses de ser assaltado se fores p'ali;
Tens mais hipóteses de te acontecer alguma coisa se fores sair à noite, ou se não deres os kwanzas ao arrumador, ou a gasosa ao indivíduo que te vai pedir o céu e a terra;
Tens mais hipóteses de te acontecer algo se não andares no bolso com um mínimo de 100USD (para resolver algum problema), ou se deixares acabar o saldo do telemóvel, ou se tiveres o depósito do carro abaixo de metade do depósito, etc, etc,...

Aqui o truque da segurança passa por, primeiro, uma questão de sorte! Corri sério risco de vida quando cá estive em Agosto 08 e foi só uma semana, do que nos 3 meses que aqui estou.

Os grandes riscos de vida que incorri neste trimestre foram essencialmente por.. conduzir na estrada, e acredita que já me safei de algumas, daquelas de te deixarem o coração a saltar pelas goelas..., portanto, quanto menos conduzires, menos riscos corres.

Mas como dizia, acerca dos truques de segurança, e em resumo, primeiro sorte, depois gestão de risco/hipoteses, andar sempre com (bom) dinheiro no bolso (aqui resolve muitos problemas), depósito: não deixar o depósito de combustível abaixo de meio, e nunca sair sem saldo no telemóvel, ou com pouco crédito.

E depois, MUITO importante!!! Muito importante mesmo!!!! Ter a noção, a consciência que a vida aqui... vale muito pouco!!! Vale muito pouco sob o ponto de vista social, e monetariamente falando também!!! Não te digo aqui quanto custa ($) pagar para tirar a vida a alguém, para não ficares assustado/escandalizado, mas aviso-te já que é muito... barato!!! Por isso, evitar riscos, e situações menos claras, é sempre um alerta a ter em conta!!!

Mas é como te digo, é tudo uma gestão de riscos/hipóteses.

Como disse, passei por uma situação de maior aperto quando cá estive numa semana, do que nestes 3 meses.

Podes viver até uma vida muito tranquila aqui, agora isso vai depender muito da tua rotina! De onde vais ficar a dormir, de onde vais ficar a trabalhar, e se tens que te deslocar muito e a vários pontos.

E aviso já que aqui não há hora de ponta! O trânsito está sempre entupido!

Mas aviso-te também que o primeiro choque, o primeiro impacto é logo no aeroporto! Isso é algo que precisas também de ter em conta!


Espero que a informação aqui exposta seja útil! E não te assustes, porque aqui também é bom, principalmente se quiseres dar um pontapé na tua vida (em vários sentidos), mas é bom que contes com o pior! Mais vale estar em alerta do que ser surpreendido!!!

segunda-feira, 27 de abril de 2009

T(r)ópico #41 - Architects @ The Construction Facilities

T(r)ópico #40 - Diário de uma estrada angolana... (percurso casa-trabalho-casa) IV

13.05.2009

Inacreditável...

Este diário de hoje vai parecer forjado! Mas de facto ele espelha a pura das verdades, e como bom diário que é, retrata a realidade do dia-a-dia de uma estrada angolana, e esta em particular, a que faço todos os dias de casa para o trabalho!

Anteontem, a caminho do empreendimento, mesmo na curva antes de chegar, um tipo espetou-se contra um poste de electricidade. Um poste enorme de betão, igual aquele que o autocarro se espetou no outro dia, como contei no T(r)ópico#32. O poste estava totalmente derrubado!!! Imagino como deve ter ficado o carro...


Era segunda de manhã, e segundo testumunhos dos chineses que trabalham na obra, o acidente tinha acontecido no dia anterior, Domingo. Talvez o tipo tivesse com pressa para... ir à missa!?? Hmmm.. não me parece... Seja como for, já tinha passado um dia e ele ainda ali estava, como se o acidente tivesse acabado de acontecer... e por ali ficou...
No domingo, até nem há muito trânsito naquela estrada em particular.. mas... e na segunda...??? Ah pois é... na Segunda.. é um vê se te avias!!!

Então, como o poste estava a cortar a estrada e os carros tinham que seguir, o que é que eles se lembraram de fazer... corta-mato!!! Os carros trepam os altos lancis lançam-se mato fora, abrindo caminho pelo capim e arbustos uns atrás dos outros, num circo automóvel, cima/abaixo pelos buracos fora, em fila indiana... uns para cá, outros para lá...



Com os jipes, tudo parece fácil, pois são carros altos e aliás até foram feitos para isso mesmo, para superar obstáculos, agora com carros baixos... a conversa já é outra... e eu estava não de Patrol, mas de Lamborghini (my yellow Suzzuki Alto)...

...e este incrivelmente superou os obstáculos... já o mesmo não se pode dizer dos "bico de pato" (como são chamados aqui os Toyota Corolla's) que iam encalhando aqui e ali, atrofiando aquele selvagem engarrafamento... e logo logo um "Bico de Pato", que até tinha superado bem o primeiro lancil.. ao segundo.. quebrou!!! E se o trânsito já estava complicado, mais ainda ficou, pois teve de se encontrar nova via alternativa por entre o capim!!!

(Toyota Corolla - "Bico de Pato" ao centro com o condutor de fora do carro a coçar a cabeça, provavelmente a pensar para si..
"Xiiíí pá! E agora? Qui é qui vai fazê?")


Como o tipo se espetou contra o poste, não me perguntes... não faço a mínima ideia... a estrada aqui até é alcatroada, e o alcatrão aqui até nem tem buracos!!! A sério... é das melhores zonas da cidade (viáriamente falando)!!!

Ontem, exactamente na mesma curva, e removido que estava o poste do dia anterior... um outro carro... espetou-se contra um poste... exactamente ao lado do outro!!!! É Inacreditável!!! «Parece que é brincadeira!!!», comentou um dos brasileiros! E realmente, parece mesmo!!! Como é que um tipo se espeta, na mesma curva, no poste ao lado do outro que tinha tombado no dia anterior!!!?? (e não, o poste que tinha tombado já lá não estava)

Como o caminho já tinha sido aberto pelo terreno baldio, pelo acidente do poste do dia anterior, então a tarefa já estava facilitada... só tinham que galgar os lancis...


Não contente com a "brincadeira" (imagino que no mesmo acidente) ainda fez com que outro carro, uma pick-up fosse dizer ao muro ao lado do poste, que tinha saudades deste, e como tal.. toma lá um beijinho.... ups!!! Parece que foi mais um.. "amasso"!!!



Há hora de almoço ainda, a caminho de casa, um camião de carga parece ter ficado com sono... Sim, eu disse o camião, não o condutor, pois este estava entretido a apanhar a carga do camião pela estrada fora!!! O camião, na curva deve-lhe ter dado a soneira, e como tal, na curva resolveu deitar-se um bocadinho... e então lá estava ele, tombado na curva... Schhhhhh... (não façam barulho.. que o camião deve estar a bater a sesta...) schhhhhh....!!!

E hoje, sem motivo aparente, numa estrada completamente deserta, sem nenhum buraco na estrada sequer, um tipo de mota, mesmo à minha frente, resolve ir espetar-se, imagina lá com quê.... pois exactamente... espetar-se contra um poste!!!

Galgou o lancil, e pumbas... lá foi dar o cumprimento matinal ao poste!!! Eram umas 6h30m, e eu ia a caminho do escritório... o tipo devia-se ter espetado à coisa de segundos atrás, pois quando passei, ele acabava de se levantar do chão, ainda de capacete na cabeça, e à descoberta das mazelas no corpo...

Porra, o poste já ali estava!!!

Não sei que tipo de fixação é que esta gente tem com os postes!!!

Em relação ao famigerado camião porta-contentores, mencionado já nos T(r)ópicos anteriores, este ainda por lá continua... A estrada já está toda alcatroada. Como solução para a parte que estava por alcatroar, oucupada pelo camião, eles optaram por arrombar a porta do camião, desengatar o animal, e puxa-lo um pouco à frente, para a zona que já estava alcatroada, e desta forma alcatroarem o resto que faltava...

Eu já lancei aqui uma carteira de apostas... quanto tempo mais este camião ali vai ficar??? Eu pelo menos já conto umas... 7 semanas... quantas mais ele vai ficar!?? E.. quantos postes mais vão tombar no próximo mês???

Eheheh... acho que vou abrir aqui uma casa de apostas para excêntricos!!! Aceitam-se candidatos!!! eheheh

T(r)ópico #39 - Churrasco Luso-Brasileiro@Casa 23 ENAD

26.04.2009


Para contrariar a quantidade e o volume dos dias de trabalho bem puxados das últimas semanas, resolvemos fazer um churrascozinho... eheh

Ele já andava prometido! Já tinha sido cancelado em fins-de-semana, anteriores. Ora porque vinha uma daquelas chuvadas tropicais vindas do nada, ou porque não se tinha conseguido fazer tudo a tempo!

Mas este fim de semana não podia falhar! Levantamo-nos bem cedo... e o dia até começou mal.. pois faltou a electricidade (que só apareceu lá para as 16h), e sem electricidade não há água... assim como o frigorífico não funciona, as bebidas ficam quentes, e o arroz e o feijão (preto) não se cozem pois o fogão é eléctrico (curioso não.. num país onde a electricidade falta dia sim dia não, o fogão.. é eléctrico!)

Mas neste fim de semana, nem a electricidade nos estragou a festa!!!! Para as bebidas, resolvemos sair e comprar uns quantos quilos valentes de gelo, onde mergulhamos as bebidas! Para o arroz e o feijão.. fui pedir a bilha de gás emprestada à vizinha! E como até o redutor era diferente.. até o redutor tive que lhe pedir emprestado! Bem-haja vizinha!

E assim se fez... Um Churrasco Luso-Brasileiro!!! Onde não podia faltar "com certeza" a picanha, a maminha, a salsicha, o chouriço assado, o entrecosto, e claro... A guitarra (a tocar um fado de coimbra), o Samba, o forró... e não tivessemos nós em Angola... o Kizomba e Tarraxinha, também fizeram (grande parte aliás) da festa!




Reparamos a churrasqueira, desenhei e mandei executar uma grelha aos chineses ,que a fizeram tal e qual o desenho, e aí fomos nós, para o nosso primeiro (de muitos, espero) Churrasco Luso-Brasileiro!!!

O resto da noite... bom, esse já foi angolano, onde os tugas e os brazucas deram, ou pelo menos tentaram, uns passos de kizomba, ensinados por quem realmente sabe!!


Em resumo... um dia muito bem passado, e que ajuda a atenuar a distância, a saudade e a encarar melhor a semana seguinte! Sem dúvida uma experiência para repetir!!!